sexta-feira, 23 de abril de 2010

COMO O HAITI PODE LIVRAR-SE DA POBREZA

O fracasso do Vodu Africano, do materialismo ocidental e um evangelho dividido.
Por Darrow L. Miller.


O mundo foi sacudido pelo recente desastre no Haiti. O dinheiro doado por organizações respeitáveis tem sido usado para prover o auxílio médico necessário, comida, água, e abrigo temporário. Serão necessários centenas de milhões de dólares para prover ajuda humanitária que possa salvar vidas. Porém, enquanto a ajuda material é absolutamente necessária em resposta a este mal causado pela natureza, nós não deveríamos pensar que somente dinheiro é a única solução para os problemas crônicos do Haiti.
Tem sido informado que em anos recentes tem havido 10.000 organizações sem fins lucrativos de todos os tipos e tamanho trabalhando no Haiti, equivalendo a uma organização para cada 1.000 haitianos. Também em anos recentes o mundo continuou a aumentar a ajuda para o Haiti: Em 2006 - 580 milhões de dólares, em 2007 - 702 milhões, em 2008 - 912 milhões. Além disso, os haitianos da Diáspora (que moram em outros países) investem 2 bilhões de dólares por ano no Haiti. A despeito de todo este trabalho o Haiti ainda é cronicamente pobre. Ninguém pergunta “por quê?”
Um dos maiores especialistas do mundo em pobreza, Jeffrey Sachs, autor do livro The End of Poverty (O Fim da Pobreza) não pergunta “por quê?” Ele simplesmente não vê o envio de cada vez mais dinheiro como a solução, dizendo a respeito do Haiti: “Alguém pode imaginar o desembolso anual de 2 a 3 bilhões de dólares nos próximos 5 anos”. O ato de injetar dinheiro no Haiti está baseado na suposição ateísta materialista de que quando nós do Ocidente compartilhamos nossos recursos as nações mais pobres serão tiradas da pobreza. Entretanto, fica claro que mesmo com o dinheiro que tem sido injetado no Haiti, e as agências trabalhando no país, ele continua grandemente empobrecido. Como pode ser isso? Eu creio que é devido ao fato de que a maior parte da ajuda fluindo para o Haiti ataca os sintomas do problema – ou seja, fome, pobreza, habitação, e falta de infra-estrutura – ao invés da raiz do problema, que é uma cultura de resistência ao desenvolvimento.

Sobrevivendo ao Mal Natural
Algumas pessoas defendem que se os haitianos fossem evangelizados e se tornassem cristãos professos, então os seus problemas seriam resolvidos. Entretanto, a nação já professa nominalmente o cristianismo, com aproximadamente 80% sendo Católicos e 20% Protestantes. Porém, o Haiti ainda é amplamente Voduísta na sua visão de mundo.
Assim, mesmo que o Haiti tenha sido evangelizado, uma “experiência” espiritual apenas, não é suficiente. Se o povo do Haiti professa Cristo, mas ainda continua a pensar e funcionar com um paradigma animista ou do voduísta, eles continuarão a definhar na pobreza e estarão muito mal preparados para desastres futuros.
Os desastres naturais como enchentes, terremotos, secas e tsunamis, fazem o seu caminho ao redor do mundo muitas vezes de modo imprevisível. Em 1989 um terremoto de magnitude 7.0 atingiu a área da Baia de São Francisco (Califórnia), deixando 63 mortos. Os terremotos na Califórnia e Haiti foram da mesma magnitude, atingindo as cidades maiores aproximadamente na mesma hora do dia. O que produziu tamanha discrepância em destruição e número de mortos? Foi uma diferença de visão de mundo: As instituições, a infra-estrutura, e hábitos do coração do povo dos Estados Unidos foram influenciados e ordenados pela visão de mundo judaico-cristã, enquanto que a do Haiti foi influenciada por uma visão de mundo animista. A infra-estrutura mental de uma nação determina a qualidade da infra-estrutura externa de uma sociedade. O desenvolvimento de uma nação tem mais a ver com o capital moral e metafísico do que capital físico.
A maior parte das agências internacionais funciona com um paradigma materialista, falhando em perceber os elementos não materiais que contribuem para a riqueza ou pobreza de uma nação; Eles vêem todos os problemas como tendo apenas causas materiais e, portanto, soluções materiais. Mas, que tal se o materialismo estiver errado? Que tal, se além do mundo material, há uma cultura resistente ao desenvolvimento? Poderia haver uma contribuição espiritual ou metafísica para pobreza física que precisa ser considerada também?
Deixe-me ser muito claro, que o terremoto não foi castigo de Deus sobre o Haiti. Deus não é ser caprichoso. Deus ama as nações. Ele criou uma ordem na sua criação, que quando descoberta e seguida, permite aos povos e nações florescerem. Quando esta ordem é negada ou desobedecida, o resultado é desordem na sociedade. O desastre no Haiti desastre foi um evento natural. Mas, é a desordem na alma da cultura haitiana que fez com que fosse virtualmente impossível preparar-se para ele ou para agüentar tais desastres.

Haiti “Desesperadamente amaldiçoado”?
Foi muito infeliz a colocação de Pat Robertson, ao dizer que o Haiti estava “desesperadamente amaldiçoado” O comentário foi inoportuno e de mau tom. O que o Haiti precisa neste momento não é condenação, mas empatia e compaixão que se manifestem através do derramamento de dinheiro, medicamentos, comida, água, e voluntários. Felizmente estamos testemunhando tal influxo de ajuda global.
Entretanto, após qualquer esforço de ajuda humanitária precisa haver um foco em reabilitação e desenvolvimento. A comunidade internacional, como geralmente ela faz, está começando a mover-se da ajuda humanitária para a ajuda na restauração do Haiti para o que ele era antes do terremoto. É aqui que precisamos pensar com as nossas cabeças e não apenas responder emocionalmente. Precisamos analisar com as nossas mentes por que, mesmo com todos os bilhões de dólares em ajuda e presença de 10.000 organizações o Haiti é tão pobre. Fazer mais do mesmo que tem sido feito não ajudará o Haiti. Nós precisamos olhar para as causas materiais e não materiais da pobreza permanente do Haiti. Ideias, tem sim, conseqüências para bem ou para mal. A raiz da pobreza atual não é falta de recursos; ao invés, a raiz da pobreza são ideias e ideais ruins, que levam a uma cultura de resistência ao desenvolvimento. Ideias ruins deixarão a nação “desesperadamente amaldiçoada”. Um pacto com Satanás no passado do Haiti, se isso for verdade, terá conseqüências ruins. A adoração de Satanás, amaldiçoará a nação. A cultura de um povo é formada por aquilo que eles adoram, e o seu culto, por assim dizer, determina a natureza e força das instituições sociais, econômicas e políticas de uma sociedade. Algumas culturas apóiam o desenvolvimento e saúde de uma nação, e algumas são resistentes ao desenvolvimento, levando à desintegração da sociedade.
Quando os Deuses são Caprichosos
A cultura do Haiti é um produto de adoração derivado das religiões tribais politeístas do Oeste da África e especificamente do Vodu, que vê o universo como caprichoso e não ordenado. Quando os deuses são caprichosos, os humanos muitas vezes respondem tentando aplacar a ira deles com presentes, o que instala uma cultura de propina e corrupção, alimentando uma atitude de desesperança e desespero. As pessoas procuram simplesmente sobreviver às secas, terremotos, ou enchentes que os caprichos dos deuses trazem. O que muitos jornalistas entendem como tranqüilidade dos haitianos em meio ao seu sofrimento pode ser apenas resignação e fatalismo.
Em contraste, o teísmo Judaico-Cristão entende que o universo é ordenado. Há leis naturais governando o universo físico que podem ser descobertas através da ciência e aplicadas através da tecnologia para resolver problemas da fome e pobreza e para construir infra-estrutura que suporte terremotos e limite o impacto das enchentes.
O que o Haiti precisa é um novo “culto”, por assim dizer, para adorar o Deus Criador revelado através das Escrituras verificáveis, e então a transformação da cultura na base da informação libertadora dada pelo Criador para curar um mundo quebrado. Infelizmente, a indústria do desenvolvimento secular quer resolver os problemas do Haiti sem um componente metafísico, como se o homem vivesse apenas de pão. E, tristemente, muitos missionários cristãos tem trazido ao Haiti um evangelho dividido para salvar almas deste mundo para o céu, ao invés de um evangelho do reino que traria esperança aos haitianos em vida hoje, bem como na eternidade.
Como tem sido previamente observado, o culto de um povo – adoração – produz cultura, da qual instituições e estruturas da sociedade são formadas. Todas autoridades governam através de leis e ordenanças. Deus governa o universo através das suas leis e ordenanças, então quando nações fundam suas sociedades sob as leis de Deus, o que segue, é justiça crescente, liberdade, saúde comunitária, e prosperidade.

Uma Visão para Vida
Nós precisamos chorar pela situação angustiante dos haitianos hoje, e dar generosamente tempo, talentos, e dinheiro para auxiliar os esforços de ajuda humanitária. Mas, enquanto o terremoto foi o gatilho da destruição no Haiti, a extensão da devastação física e perda de vidas está enraizado na visão de mundo falha.
A ordem Bíblica cria uma visão para melhorar a vida, saúde, rendimento, e habilidade para planejar e suportar a destruição amarga dos desastres naturais. A igreja foi instituída por Deus para ser o agente primário de transformação na sociedade, o instrumento da cultura do reino trazendo verdade, abundância e bondade para as sociedades. Nós temos visto a igreja funcionar nesta função algumas vezes na história. O que o Haiti precisará à medida que ele passa para a fase de reabilitação e desenvolvimento é uma cultura transformada – que crie riqueza, justiça, e liberdade.

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Darrow Miller é co-fundador da Disciple Nations Alliance [Aliança para Discipulado das Nações] e autor do livro Discipling Nations: The Power of Truth to Transform Cultures [Discipulando Nações: O Poder da Verdade para Transformar Culturas].

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Haiti,depois de te conhecer escreverei assim: Aí iti !

As malas que foram abertas na chegada
Não traziam dentro a tristeza de seus olhos nem a violência de sua voz.
Seu sol que bronzeava nossa pele e cozinhava as frutas vendidas nos carrinhos amontoados em suas ruas;
Junto com seu povo urgia um vento, uma inesperada brisa para refrescar aquele dia igual a qualquer outro naquelas bandas de lá.

Gente demais...
Atravessando a fronteira,
Gente demais em cima das caminhonetes Tap-Tap
Gente demais caminhando, correndo, vendendo, conversando...
Gente demais sem sorriso no rosto, sem esperança nos olhos,
Gente demais em um lugar com fome demais.

Meninas com seus vestidos de cetim branco e fitas amarradas no cabelo
caminham pelas ruas...
Lixo e mais lixo e mais lixo...
Nesta rua de lixo tem um pouco de comida,
tem um pé de calçado furado,
tem jumentos moribundos esperando a noite chegar...
Cortam o Rio Massacre atravessando a fronteira pra chegar do lado de lá.

Do lado de lá tem energia,
Internet, telefone, tem posto de gasolina, tem casas com banheiro,
Tem também gente, mas do lado de lá também tem comida.

Ai iti; de volta ao Brasil trago você comigo, não em minha mala, mas em meu coração.
Ai iti; quem ajuntará você como a galinha ajunta seus filhotes debaixo de suas asas...
Quem se importará com seu povo, sua gente, com os dias do presente e do futuro de sua nação...
Ai iti; até quando dedicará seus líderes ao príncipe do mal e entoará seus cantos e tambores para adorá-Lo.
Você já sofreu demais;
Ai iti seu lamento é minha oração, seu sofrimento minha angústia, sua sequidão minha oportunidade de levar até ti a Água viva.

Martha Dantas
Diretora Executiva-Ministério Together / Texto escrito quando voltou do Haiti (Set 2009)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Futuro do Haiti



Me alegrei muito com as notícias enviadas pelo Steve Spellman, das possibilidades de parceria para médio e longo prazo e por todos os passos concretos para a reconstrução deste país. Creio que a igreja terá um papel fundamental neste processo.
Creio que todos nós ainda estamos impactados com tudo o que vimos, sentimos e ouvimos no Haiti. As vezes as pessoas me perguntam se de fato eu já voltei para o Brasil. No último domingo apresentei um relatório sobre a viagem e foi muito positivo a reação dos irmãos. Ontem tivemos uma noite de oração especialmente pelo Haiti e do que Deus vai fazer através da sua igreja. Oramos especialmente para que Deus levante brasileiros para serem enviados ao Haiti para um período maior. (Estas orações são perigosas!!!)

Também tenho acompanhado as notícias e achei muito interessante a reportagem do Celso Amorin na Folha sobre a reconstrução do Haiti.
Estamos orando pela reconstruçào deste país e nos alegramos por todos os instrumentos que Deus está usando.
Que seja de fato um novo tempo para o Haiti, um tempo onde as marcas do Reino de Deus possa transparecer.
Um grande abraço,
Evaldo - Joinville

O Haiti e o futuro


CELSO AMORIM
A NONA visita que fiz a Porto Príncipe desde que assumi as funções de chanceler no governo do presidente Lula foi, sem dúvida, a mais desalentadora. O terremoto de 12 de janeiro, além de provocar a monumental tragédia humana que todos acompanhamos, fez retroceder um processo virtuoso de superação de dificuldades seculares.
A descrição que Voltaire fez de Lisboa após o sismo de 1755 coincide tristemente com a destruição que testemunhei ao percorrer a capital haitiana. E, a exemplo da ampla discussão moral desencadeada pelo poema do filósofo francês, a catástrofe haitiana lança hoje um desafio à capacidade da comunidade internacional de reagir diante de um desastre que afeta não apenas o povo do Haiti, mas a humanidade toda.
Ao realizar hoje, dia 31 de março, na sede das Nações Unidas em Nova York, a Conferência de Doadores por um Novo Futuro para o Haiti, a comunidade internacional confronta-se com a oportunidade de reafirmar, com ações concretas, sua solidariedade e disposição para ajudar o Haiti a recuperar-se da tragédia.
O Brasil, escolhido como um dos copresidentes da conferência, defenderá que o objetivo central do encontro seja construir, sob a condução das lideranças haitianas, as condições para o desenvolvimento social e econômico de longo prazo no Haiti.
Desde 2004, quando assumiu o comando militar da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), o Brasil sustenta que segurança e desenvolvimento são dimensões inseparáveis para encaminhar uma solução duradoura para a situação haitiana.
A ajuda que o governo brasileiro estendeu ao Haiti já superou US$ 200 milhões. Trata-se da maior soma que o Brasil destinou a um país vitimado por catástrofe natural. Em Nova York, anunciarei compromissos adicionais que elevarão a cerca de US$ 340 milhões essa contribuição. É um montante considerável para um país em desenvolvimento como o Brasil.
Tenho a certeza de que essa resposta ao chamado da solidariedade orgulharia os brasileiros que perdemos entre as vítimas do terremoto, como a dra. Zilda Arns, o vice-representante especial da ONU, Luiz Carlos da Costa, e nossos militares.
Não basta, contudo, canalizar bilhões de dólares para uma miríade de projetos de cooperação com o Haiti se não houver uma visão estratégica para o futuro do país. Sem ela, corremos o risco de apaziguar momentaneamente nossas consciências, deixando intactas as raízes históricas e sociais que explicam o atraso haitiano.
A Conferência de Doadores dá passos positivos para superar essa lógica, ao prever a criação de um fundo fiduciário único, que dirigirá recursos para prioridades estabelecidas pelo governo do Haiti no seu Plano de Ação.
Tenho proposto que países em condições de fazê-lo -sobretudo os mais desenvolvidos- ofereçam ao Haiti a abertura de seus mercados, sem tarifas nem quotas, de modo a incentivar investimentos produtivos em território haitiano. O Brasil espera pôr em prática em breve seu próprio mecanismo facilitado para importação de mercadorias haitianas, em especial têxteis, em linha com a aspiração do setor privado brasileiro de instalar unidades fabris naquele país.
Com o objetivo de gerar empregos e renda no Haiti e melhorar as condições ambientais, sugeri no Fórum Econômico Mundial que o Banco Mundial liderasse o financiamento de amplo programa de reflorestamento, cuja contrapartida deveria ser a abertura de mercados importadores para produtos do manejo sustentável das áreas reflorestadas no Haiti.
No campo da infraestrutura, o Exército brasileiro já vem elaborando projeto técnico para a construção de barragem no rio Artibonite, que permitirá a produção de energia limpa e renovável, bem como irrigação para agricultura.
São muitos e de grande monta os desafios da reconstrução. Aproxima-se a estação das chuvas, que demandará a reacomodação em condições dignas das populações deslocadas pelo terremoto. O fornecimento de bens emergenciais deverá continuar pelos próximos meses, em paralelo ao esforço de plantio da próxima safra.
Escolas terão de ser erguidas e, ao mesmo tempo, as famílias precisarão recobrar a confiança de que seus filhos podem voltar aos bancos escolares sem medo de desabamentos.
Hospitais improvisados terão de ser substituídos por estruturas permanentes.
Tenho a convicção de que, com a contribuição adequada da comunidade internacional, o povo haitiano, com sua coragem e resistência invejáveis, será capaz de superar essas adversidades e refundar seu país. Nosso compromisso em Nova York deve ser o de coadjuvar o Haiti em uma nova independência.

CELSO AMORIM, 67, diplomata, doutor em ciências políticas pela London School of Economics (Inglaterra), é o ministro das Relações Exteriores.